Conta-se no Brasil que Odé era irmão de Ogum e de Bará, filhos de Yemanjá. Bará era indisciplinado e insolente com sua mãe e por isso ela o mandou embora. Os outros dois filhos se conduziam melhor. Ogum trabalhava no campo e Odé caçava na floresta das vizinhanças, de modo que a casa estava sempre abastecida de produtos agrícolas e de caça. Yemanjá, no entanto, andava inquieta e resolveu consultar um babalaô. Este lhe aconselhou proibir que Odé saísse à caça, pois se arriscava a encontrar Ossanha, aquele que detém o poder das plantas e que vivia nas profundezas da floresta. Odé ficaria exposto a um feitiço de Ossanha para obrigá-lo a permanecer em sua companhia. Yemanjá exigiu então, que Odé renunciasse a suas atividades de caçador. Este porém, de personalidade independente, continuou sua incursões à floresta. Ele partia com outros caçadores, e como sempre faziam, uma vez chegados junto à uma grande árvore (Irokò), separavam-se, prosseguindo isoladamente, e voltavam a encontrar-se no fim do dia no mesmo lugar. Certa tarde, Odé não voltou para o reencontro, nem respondeu aos apelos dos caçadores. Ele havia encontrado Ossanha e este lhe dera para beber uma poção onde foram maceradas certas folhas, como amúnimúyè, cujo nome significa "apossa-se de uma pessoa e de sua inteligência", o que provocou em Odé uma aminésia. Ele não sabia mais quem era nem onde morava. Ficou vivendo na mata com Ossanha, como predissera o babalaô.
Ogum, inquieto com a ausência do irmão, partiu à sua procura, encontrando-o nas profundezas da floresta. Ele o trouxe, mas Yemanjá não quis receber o filho desobediente. Ogum revoltado pela intransigência materna recusou-se a continuar em casa (é por isso que o lugar consagrado a Ogum está sempre instalado ao ar livre). Odé voltou para a companhia de Ossanha, e Iemanjá desesperada por ter perdido seus filhos, transformou-se num rio, chamado Ògùn (não confundir com Ògún, o Orixá).
O narrador desta lenda chamou a atenção para o fato de que "esses quatro deuses iorubás -Bará, Ogum, Odé e Ossanha - são igualmente simbolizados por objetos de ferro e vivem todos ao ar livre".
*Ilustração: Claudia Krindges.
Nenhum comentário:
Postar um comentário