quarta-feira, 25 de maio de 2011

Maria Mulambo

Maria Mulambo nasceu em berço de ouro, cercada de luxo. Seus pais não eram reis, mas faziam parte da corte em um pequeno reinado. Maria cresceu bonita e delicada. Por causa de seus trejeitos, era chamada de princesa, mas não o era. Aos 15 anos, foi pedida em casamento pelo rei, para casar-se com seu filho de 40 anos. 
Foi um casamento sem amor, apenas para que as famílias se unissem e a fortuna aumentasse. Os anos se passavam e Maria não engravidava. O reino precisava de um sucessor ao trono. Maria amargava a dor de, além de manter um casamento sem amor, ser chamada de árvore que não dá frutos; nesta época, toda mulher que não tinha filhos era tida como amaldiçoada. 
Paralelamente a isso tudo, Maria era uma mulher que praticava a caridade, indo ela mesma aos povoados pobres do reino, ajudar aos doentes e necessitados. Nessas suas idas aos locais mais pobres, conheceu um jovem, apenas dois anos mais velho que ela, que havia ficado viúvo e tinha três filhos pequenos, dos quais cuidava como muito amor. Mulambo encantou-se. Foi amor à primeira vista, de ambas as partes, só que nenhum dos dois tinha coragem de assumir este sentimento. 
O rei morreu, o príncipe foi coroado e Maria então, foi declarada rainha daquele pequeno país. O povo adorava-a, mas alguns a viam com olhar de inveja e criticavam-na por não conseguir engravidar. 
No dia da coroação, os pobres súditos não tinham o que oferecer à Maria, que era tão bondosa com eles. Então fizeram um tapete de flores para que ela passasse em cima. Ela ficou muito emocionada; seu marido, o rei, morreu de inveja e ao chegar ao castelo trancou-a no quarto e deu-lhe a primeira das inúmeras surras que ele lhe aplicaria. Bastava ele beber um pouquinho e Maria sofria com suas agressões verbais, tapas, socos e pontapés. 
Mesmo machucada, ela não parou de ir aos povoados pobres praticar a caridade. Num destes dias, o amado de Maria, ao vê-la com tantas marcas, resolveu declarar seu amor e propôs que fugissem, para viverem intensamente seu grande amor. 
Combinaram tudo. Os pais do rapaz tomariam conta de seus filhos até que a situação se acalmasse e ele pudesse reconstruir a família. Maria fugiu com seu amor apenas com a roupa do corpo, deixando ouro e jóias para trás. O rei no princípio mandou procurá-la, mas como não encontrou-a, desistiu. 
Maria agora não se vestia com luxo e riquezas, usava roupas humildes que, de tão surradas, pareciam mulambos; mas era feliz. E engravidou. 
A notícia correu todo o país e chegou aos ouvidos do rei. O rei se desesperou em saber que ele é quem era uma árvore que não dava frutos. A loucura tomou conta dele ao saber que era estéril e, como rei, ele achava que isso não podia acontecer. Ele tinha de limpar seu nome e sua honra. Precisava fazer justiça.
Mandou seus guardas prenderem Maria, que de rainha passou a ser chamada de Maria Mulambo, não como deboche, mas sim pelo fato de ela agora pertencer ao povo. Ordenou aos guardas que amarrassem duas pedras aos pés de Maria e que jogassem-na na parte mais funda do rio. 
Os guardas cumpriram as ordens do rei. O povo não soube de nada. Sete dias após o crime, às margens do rio, no local onde Maria foi morta, começaram a nascer flores que nunca existiram ali e os peixes do rio somente eram pescados naquele local, onde só faltavam pular para fora d'água. 
Seu amado desconfiou e mergulhou no rio, procurando o corpo de Maria; e o encontrou. Mesmo depois de estar tantos dias mergulhado na água, o corpo estava intacto, dava a impressão de que Maria acordaria e voltaria a viver normalmente. Os farrapos que Maria vestia quando foi jogada ao rio sumiram. Suas roupas agora eram de rainha. Jóias cobriam seu corpo. 
O velório foi uma cerimônia digna de rainha e cremaram seu corpo. O rei enlouqueceu. O marido de Mulambo nunca mais casou e cultuou-a por toda a vida, a espera de poder encontrá-la de novo. No dia em que ele morreu e reencontrou Maria, no céu se fez o azul mais límpido e teve início a primavera.

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