Ogum vivia com sua mãe, Yemanjá, em um castelo nas profundezas do mar. Cansado dessa vida, resolveu sair em busca de algo adequado ao seu temperamento. Pediu licença à ela e partiu. Já em terra, caminhava por meio da floresta quando sentiu fome. Sentou-se embaixo de uma árvore e viu animais correndo. Logo fez uma lança de madeira e caçou o seu primeiro animal. Após prepará-lo da forma como gostava, ele comeu e sentiu suas forças se revigorarem. Por este ato de caça, recebeu o título de Ogum Olóde (Senhor dos Caçadores). Ensinou esta tática ao irmão Oxóssi, porque com seu temperamento não dava para ficar esperando pelos animais. Mais adiante, Ogum tropeçou numa pedra, que nada mais era do que minério de ferro. Pegou-o e viu que era consistente e ideal para servir como arma de luta. Preparou uma forja e modelou o minério em forma de espada. Produziu também outras ferramentas que serviram para trabalhar melhor na lavoura. A este minério, Ogum deu o nome de Irin (ferro), e por isso ficou conhecido como Babá Irin (Pai do Ferro). Iniciou-se uma guerra, e os Orixás necessitavam de ajuda. Oromilaia pediu que Xangô chamasse seu irmão mais velho para que ele derrotasse os inimigos, pois ele tinha os segredos da guerra e também das armas. Ogum relutou mas cedeu aos pedidos de Xangô. Na guerra, Ogum destacou-se por sua bravura, liquidando os inimigos com sua espada e saciando sua sede com o sangue de seus adversários. Logo a notícia se espalhou e o povo, ao ver Ogum retornando, passou a chamá-lo de Ògún Aiaká Gbamu Èjè, que significa: Ogum recebe e toma o sangue. Com a vitória de Ogum, ele foi novamente chamado para outra tarefa. Desta vez, era a tomada da cidade de Ìré. Ele teve de destruir primeiro as sete cidades que cercavam e defendiam o povo de Ìré, o que o fez ser chamado de Ògún Méjèèjè e, mais tarde, ao entrar vitorioso na cidade, foi aclamado como Ògún Onirê (Rei de Iré). Deixou seu filho, Ògúndahunsi, no governo das novas terras conquistadas, e voltou à cidade. Passou a trabalhar com muita atividade em sua forja, sempre acesa, pois precisava fabricar mais armamentos e ferramentas de trabalho para atender aos pedidos vindos de todas as regiões. Ogum vestia-se com um avental de couro quando estava em seu trabalho, na forja de metais, e o povo passou a chamá-lo de Ògún Alágbéde, o ferramenteiro, o senhor da forja. Esta demonstração de arte no manuseio do fogo com o objetivo de fazer a liga dos metais necessários o fez dizer diversas vezes a expressão Orò mi’ná(n), que quer dizer: Meu ritual é o fogo. Os pedidos passaram a ser tantos, devido às vitórias obtidas com sua espada invencível, que Ogum chamou seu irmão, Exú, para ajudá-lo nas tarefas. Porém Exú começou a criar problemas e Ogum teve de acorrentá-lo a suas próprias pernas. Devido a isto, Exú só ia onde Ogum fosse. Acontece que Ogum foi chamado para comparecer a dois lugares diferentes, no mesmo dia e na mesma hora. Então ele pediu a Exú que fosse a um deles e que se fizesse passar por ele. Combinou que quando batesse palmas, Exú deveria voltar rapidamente. Assim, Ogum partiu para um lado e sei irmão para o outro. O povo, pensando que era Ogum que estava em dois lugares ao mesmo tempo, denominou-o Ògún Aláméji (O dono das duas espadas). Depois de algum tempo, quando Ogum estava seguindo para um outro trabalho, os cães que existiam na região começaram a avançar sobre ele, latindo sem parar. Furioso, ele bateu palmas, mas Exú não apareceu. Ogum então se pôs em fuga em direção à montanha, com os cães perseguindo-o. Ele cada vez mais bravo, começou a dilacerar e matar os cães com os dentes. E o povo, vendo aquilo, exclamou: “Ògúnjá!”, uma contração da frase “Ògún je aja”, que significa: “Ogum come cachorro”. A multiplicidade do panteão de divindades pode ser explicada através deste mito. A fusão de culturas e os feitos heróicos proporcionam codinomes e títulos anexados às divindades, motivando individualizações. Foram criadas assim “novas qualidades” ou “novos caminhos” dos Orixás atrelados ao Orixá principal.
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